O Pretenso Ensaio sobre a Vida foi contemplado com o selo destaque do blog Lua em Poemas, da minha adorada Nancy Moises. Obrigada, e Uivos para você, Nancy!
A possibilidade de que a vida e a morte sejam meros processos biológicos me faz temer sobre os rumos futuros da ciência e da sobrevivência. Já olhei alguns trabalhos de Bohr, Boof, Descartes, Dalai Lama, Leloup, Gerber, D'ambrósio, gente mais e gente menos importante, e pouca coisa sobre a vida foi acrescentado ao que a ciência já sabe. Talvez porque essa vida louca seja uma mera equação física, ou talvez nunca possamos compreender o mistério e a grandeza dela, quem nos concedeu e o que ela significa para nós enquanto não atravessarmos o portal do pós mortem conscientes da relatividade do que temos e do pouco que somos. Discursos filosóficos e religiosos, a genialidade de Einstein - ele era pisciano! - não respondem à questão básica: o que viemos fazer aqui? Tudo de mais profundo que se sabe é que essa vida é pautada pela impermanência. Reluto em pensar que estamos aqui para sermos meros escravos emocionais, que gastamos grande parte das nossas energias tentando enxergar os próprios defeitos, que precisamos dos outros e a cada dia nos tornamos mais distantes....
Tenho pensado muito na vida, também na morte. Essa seqüência filosófica de que falo tem como ponto de partida a morte da minha mãe, a conseqüente doença do meu pai,a partida prematuríssima da Katiana, o ataque cardíaco da Luzia, quando ela tinha câncer... É fácil escrever nomes de doenças e as pessoas que já se foram no papel, difícil é sentir o peso desses diagnósticos e ver uma vida, seus sonhos e construções, boas ou más, ir embora. Penso que se não estou preparada para compreender o que Deus espera de mim enquanto cuidadora, qual será o perfil emocional enquanto protagonista da minha própria doença e partida? Mas os questionamentos não dão trégua, até porque espero obter respostas, ainda que mínimas, sobre as coisas que não sei descrever, embora saiba senti-las.
Outro dia li um artigo americano sobre o processo de suicídio das células, a apoptose, e fiquei ainda mais curiosa. Resumindo, diz lá que existe uma força invisível que rege a vida através das trocas e divisões celulares, algo tão fino e essencial capaz de decidir pela vida ou morte antes mesmo de fazermos essa escolha. As células se comunicam entre si, e definem todas as estratégias do corpo.
O artigo argumenta de forma irrevogável que as células avaliam o impacto das agressões físicas e/ou mentais e/ou emocionais que o corpo sofre e decide por continuar na luta pela vida, ou se praticam o suicídio coletivo e morrem. Do Pai ao Pai. Não precisamos ser médicos, sacerdotes ou psicólogos para observar que há pessoas fisicamente vivas, mas absolutamente mortas se avaliadas sob a ótica da vida e suas empreitadas. O que será pior, viver morto ou morrer vivo?
Richard Gerber, autor do livro Medicina Vibracional, diz que apenas recentemente os cientistas começaram a reconhecer que a mente tem a capacidade de influenciar os mecanismos biomoleculares que regulam o funcionamento do corpo. O autor considera a possibilidade da existência de um aspecto da fisiologia humana que os médicos ainda não compreenderam e, pior, relutam em reconhecer, pois "A conexão invisível entre o corpo físico e as forças sutis do espírito detém a chave para a compreensão dos relacionamentos internos entre matéria e energia. A própria consciência é uma espécie de energia que está integralmente relacionada com a expressão celular do corpo físico. Assim, a consciência participa da contínua criação da saúde e da doença" - da vida e da morte.
Especialmente entre nós, meros viajantes, a ausência do Anima - a tristeza, o sofrimento - pode significar a diferença entre a vida, a sobrevida e a morte. E como nos acostumamos a viver sem alegria, sem querer o outro, optando pelo isolamento e indiferença! Entendo que isso é morrer, mesmo porque a morte não pode ser vista apenas como a cessação dos movimentos cardíacos e de outras funções corpóreas vitais. A morte é, sobretudo, a soma das perdas espirituais, emocionais e físicas vividas todos os dias. O impacto dessas perdas diárias rouba do indivíduo a necessária compreensão de que é preciso levantar e recomeçar tudo de novo. Assim, morte é sinônimo da quebra de energia sutil que se esvai e deixa como legado um corpo inerte e inanimado, sem vida, que não encontra mais sentido de ser.
Pensar que a vida em si é o início dos longos debates sobre a impermanência de tudo, que a doença emocional é pressuposto para a doença física, que a doença física é pressuposto da morte, que a morte pode ser o recomeço de tudo, dá arrepios de curiosidade. Diz Leloup* que, em hebraico, a palavra doença significa andar em círculos, estar fechado e preso em círculos, fechado na conseqüência dos seus atos e identificar-se com os seus sintomas. Estar doente é participar do processo que envolve dimensões físicas, mentais e espirituais, e estes se articulam de forma complexa aos mecanismos emocionais ainda não compreendidos pela ciência. Adoecer significa abdicar a saúde em conseqüência de uma quebra na continuidade organísmica interna e externa, permitindo ao doente assumir posturas de "Quem se fechou em um único nível de interpretação simbólica" *.
"A vida nos é dada, mas nem sempre é recebida. Tudo nos é dado, mas nem tudo é recebido. Cada um de nós, de modo bem particular e pessoal, tem um espaço de abertura e um espaço de fechamento*. O desafio do viver é conviver com os traumas adquiridos na vida uterina, somá-los aos desencontros passados e aos vividos no momento presente, realçando as doenças do corpo e da alma, o que significa dizer que a arte da vida com saúde ainda não foi vivida por nós. Ou seja, a morte sempre nos ronda; a morte nos tem. Somos dela, assim como somos da vida.
Diz Jean Yves-Leloup* que a origem de muitas enfermidades pode estar relacionada às perdas que não foram vividas e expressadas; também à realização dos mais profundos desejos, abortados ao longo dos anos. Há ainda quem diga que a morte só precisa de motivos, sejam bons ou ruins. Quem duvidaria?
"Olho-me no espelho
e vejo a ilusão.
E digo:
Desgraçadamente, ainda sou.
Mas, um dia,
viverei a glória da morte.
E não será o fim,
Por que não há fim.
Nem começo.
Há somente vida
no ser
e do ser.
Sim... Um dia vou nascer para a vida
através da morte.
E quando eu deixar de ser,
também os que amo não mais serão,
pois eles e eu seremos UM!
Amanhã.... Virá a ressurreição!
E o Cristo
e eu
seremos UM!
E a árvore e o pássaro,
e o vento e a vida,
e o homem e a luz
e a mulher e o amor,
e eu e a natureza,
e tudo...
Seremos UM!
E haverá profunda, infinita e eterna paz".
Mensagem Rosacruz
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