por Keila, a Loba, em 01.06.07
Elas são leves, amigas, delicadas, e estão sempre anunciando a paz. Obrigada, Smareis e Tanta, pela leveza, generosidade e amizade.
Hoje eu acordei cedinho e me olhei no espelho temerosa: olhos inchados, olhar triste, cabelos brancos emoldurando o rosto, sensação dos anos correndo mais rápido que a minha corrida pelo bem estar e satisfação. Algumas outras dúvidas e temores me fizeram marejar os olhos, e temi não estar cumprindo as minhas metas nem de longe. Meu Deus, quando será que vou amadurecer? Quando saberei o que e porque farei? Olhei em volta e vi paradas dignas de uma adolescente pueril, e me senti mais perdida e desprotegida que uma menina nos seus 12 anos.
Questões bobas, como estar segura das coisas que preciso ter e enfrentar, vencer obstáculos e desafios com energia e segurança... essas coisas que a gente sempre pensa ter em quantidade suficiente nos mais de quarenta anos vividos, puxa, simplesmente percebi que elas estão comigo em determinados momentos; depois desaparecem. Para onde vão, eu não sei, mas fazem uma falta! Essa "perdição do ser" tem uma justificativa sugestiva, e me pergunto por que a agravante crise de auto-estima sempre que vou pedir a alguém algo que me beneficie. Seria catastrófico querer um pouquinho mais do que tenho?
Não posso negar que a maturidade têm trazido algumas vitórias, e quase todas envolvem descobertas pessoais. Hoje consigo me ver na perspectiva de quem planeja alçar vôo em algum momento, e sei que devo estar pronta para eventuais acidentes e surpresas agradáveis e também desagradáveis por SER na impermanência da vida. Também sinto a sensação de dever quase cumprido, pois vejo minhas filhas carregando a educação e crença de vida que sempre lutei para que percebessem, mas meu maior pecado é idealizar um futuro que talvez jamais terão. Quem suportará viver, estudar, trabalhar, sofrer, amar e respirar no Brasil do futuro, quando no presente estamos perdidos, desacreditados e desacreditando em nós e em tudo? Penso na lenda pessoal das minhas filhas, e creio que a minha mais poderosa arma para combater esse pessimismo é pensar que lhes dei o tinha de melhor. Talvez tenha lhes presenteado com coisas que nem mesmo tenho, e de repente me senti irreal. Será que todas as mães são assim?
De todas as coisas que tenho vivido e aprendido, uma delas é interessante sob vários pontos de vista: eu pensava ser a mais insegura das criaturas, mas o convívio com pessoas carentes e doentes me trouxe a feliz descoberta de que meu discurso de agora é emblemático e forte. Quando estou inspirada, poucos não se dobram aos apelos emocionais que desfiro por compaixão e respeito. No momento estou sendo cuidada e tratada pelos que eu deveria cuidar, e isso é libertador. Estou aprendendo que o hoje é uma estrada de doces encontros e de trocas; e se recebo de alguém, é meu dever repassar "a graça" com a mesma ou maior energia, pois esse fenômeno tende a crescer e a se transformar em poder - poder para olhar nos olhos e sentir a alma fluindo ou não com trabalho e discurso.
Não me perdoaria deixar de mencionar aqui que me sinto mais perto de Deus, estou sensibilíssima aos diálogos com meus pais, e às vezes tenho a sensação de que uma porta será aberta e todas as respostas sairão por ela. Não nego que essa estreita relação com a divindade tenha me levado a pensar que a morte me ronda. Imagino que todas as pessoas têm essas coisas, que esses diálogos e perguntas sem respostas fazem parte da rotina emocional de todos, mas esses questionamentos me induzem a acreditar na finitude.
Um amigo me disse que estou nos últimos dias de criança, que num passe mágico de horas de vida despertarei como alguém mais madura e sábia porque esse é o destino de todos. Acho que ele tem razão, pois do contrário eu não estaria aqui falando sobre velhice, amadurecimento, perdas e ganhos, vida e morte, porque não faria sentido publicar esse post se soubesse que ninguém viria ler e meditar sobre quem sou, por que sou e o que me faz feliz e infeliz. É bacana saber que as minhas perguntas e temores invadirão o seu universo particular por alguns minutos, e de alguma forma você será quem sou e eu serei você.
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23 comentários
De Sergio a 03.06.2007 às 10:14
olá, Keila!
Penso que duvidas teremos sempre, insegurança aparece sempre que descobrirmos novos tempos...quer dizer, não teremos duvidas ao seguir, mas insegurança ao fazer.
um beijo e bom domingo