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ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE...

por Keila, a Loba, em 22.04.09


 

Depois da invenção da pílula anticoncepcional, em 1960, o casamento andou em baixa. Mas nunca saiu da moda. E olha que a moda é antiga! Está estabelecida há pelo menos 3 000 anos. Nesse período, muita coisa mudou, principalmente até o século XIX, quando a rainha Vitória, da Inglaterra, inaugurou o estilo de núpcias que persiste até hoje. É isso mesmo, no que diz respeito à união entre homens e mulheres, ainda somos vitorianos.


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No começo, a mulher era usada como mercadoria.

Os historiadores não sabem dizer quando o homem começou a se casar. O mais antigo contrato nupcial conhecido data de 900 a. C, no Egito, mas os rituais podem ser anteriores. Em muitas culturas, os enlaces se davam informalmente e, por isso, não ficaram registrados. As mulheres eram raptadas pelos pretendentes e só em alguns grupos sociais elas tinham valor. Não exatamente valor humano, mas de mercadoria mesmo. Frequentemente eram entregues à estrangeiros para solucionar crises políticas e econômicas.

O lado bom é que possibilitavam trocas de costumes entre os povos. Amor mesmo, nem pensar. Não raro os prometidos se conheciam no dia do casamento, hábito preservado por algumas sociedades de religião muçulmana até hoje. Daí a ênfase na aparência da noiva. Ela tinha, e ainda tem, de ser o reflexo de tudo o que a sociedade considera belo. Afinal, uma rica embalagem sempre valoriza o produto.

Esse modelo mercantilista começou a sofrer algum abalo lá pelo século XII, quando surgiu, no ocidente, o ideal do amor romântico. Havia na época um crescente refinamento que foi desembocar no renascimento, nos séculos XV e XVI, período de ebulição nas ciências, nas artes e, consequentemente, nos costumes. Os sentimentos começaram a prevalecer sobre os interesses. Mesmo assim, só no século XIX, quando a rainha Vitória, da Inglaterra, escolheu o próprio marido, inaugurou-se o modelo de casamento ocidental.

Em outras culturas, a evolução foi diferente. Homens muçulmanos podem ter até quatro mulheres. A poliandria, mulheres com mais de um marido, é comum em grupamentos sociais no Ceilão e no Tibet. Mesmo nesses casos, porém, a noiva não escolhe os parceiros. Era dividida por aqueles concordavam em ratear o seu sustento.


A palavra matrimonium é usada para definir o papel da mulher casada. Em contraposição, a palavra patrimonium estabelece a parte que cabe ao homem: gerir os bens. Em muitas culturas, isso ainda não mudou. Ao longo da história, as formas de união sofreram muitas metamorfoses e até bem pouco tempo não tinham nada do romantismo atual.


Na Pré-História...

Há poucas informações sobre os laços matrimoniais no tempo das cavernas. Pinturas rupestres e outros indícios mostram que se vivia em bandos de até trinta pessoas, mas não é certo se havia monogamia ou poligamia. A idéia do troglodita arrastando a mulher pelos cabelos, pode não estar totalmente descartada, uma vez que o rapto de mulheres das tribos rivais é uma das mais antigas formas de união informal.


900 A. C...

O primeiro contrato matrimonial de que se tem notícia aconteceu em 900 a. C, no Egito. Naquela civilização, as uniões já eram instituições formais, como mostram diversas obras de arte encontradas pelos arqueólogos. Os contratos estabeleciam o que a esposa teria direito a receber em caso de divórcio ou viuvez.


Século V e IV a.C...

Para os gregos, mulheres, crianças e escravos eram propriedade dos homens. A mulher tinha que se manter virgem para o casamento e fiel ao marido. Este, porém, reservava o amor aos parceiros do mesmo sexo. Tão pouca importância tinha a mulher que o noivado acontecia sem sua presença.


Século I a V...

No império romano, a união era vista como um meio para a manutenção da família. À esposa, cabia a procriação. O prazer ficava para os amantes, que eram aceitas pela sociedade e transformaram-se em concubinas estáveis.


Até o século IV...

O casamento por rapto persistiu em várias culturas menos desenvolvidas até bem depois do início da era cristã. O homem que desejasse uma mulher, simplesmente a capturava e a levava embora. Na mitologia, há vários casos, como o de Helena, filha de Júpiter, que foi raptada por Teseu, sendo depois resgatada pelos irmãos. Mais tarde, casada com Meneleu, foi levada novamente, desta vez por Paris, que a carregou para Tróia, dando início a uma guerra de 10 anos.


A partir do século IV...


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Interessados em reduzir os conflitos tribais, ao anglo-saxões trocaram o roubo de mulheres pela compra, prática que perdurou por muitos anos. A taxa era chamada weed. A palavra em inglês para casamento, wedding, deriva desse arranjo. Em sua origem latina, o termo dote, ao contrário, se referia à doação que o pai da noiva fazia ao noivo. Na França, o dote latino vigorou até 1965.


Século XII...

Expressões do repertório romântico, algumas vezes emprestada do vocabulário religioso ou guerreiro, como adorada ou conquista, surgem na primeira metade do século XIII. Nas cortes, menestréis compõem e cantam músicas e histórias de paixões para entreter os nobres. Estes, no entanto, continuam a se casar por interesse, usando a união para consolidar seus impérios e reservando o coração para damas intangíveis.


Século XV...

Reconhecendo o significado político do casamento, a igreja católica instituiu a cerimônia religiosa no século IX, mas ela não pegou logo de cara. A partir de 1439, depois que o Concílio de Florença transformou o matrimônio no sétimo sacramento, o papa conseguiu impor sua autoridade. O casamento tornou-se indissolúvel, foi extinta a autorização familiar e interditadas a poligamia e o concubinato, regras que valem até hoje.


Século XVIII...

A revolução francesa, em 1789, teve grande impacto sobre o casamento. Uma nova era começou em 1792, quando a Assembléia Constituinte da França instituiu o casamento civil. Foi estabelecida uma idade mínima para a união legal de 15 anos para os rapazes e 13 para as moças. O ritual foi dividido em duas partes, a contratual e a religiosa, sendo que somente a primeira valia na hora de registrar os filhos.


Século XIX...

O moralismo da rainha Vitória, que governou a Inglaterra de 1818 a 1901, influenciou muito o comportamento da época. Por isso, sua paixão e o casamento com um aristocrata foram fatos históricos. Ao contrário dos nobres até então, Vitória se casou por amor. Todas as mulheres passaram a querer o mesmo, mantendo a apego à moral típico da rainha e valores como virgindade, fidelidade e dedicação aos filhos. O modelo vitoriano durou até os anos 60, quando a pílula anticoncepcional acabou com o medo da gravidez fora do casamento, fazendo o tabu da virgindade perder importância.

Dados da Superinteressante, ano 10, n° 5, maio 1996.

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