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"O tempo é como um rio. Você não pode tocar a água de um rio duas vezes, porque a água que passou por entre as suas mãos não é a mesma que vai molhar a sua cabeça".
Que o Senhor te receba e te acolha nos braços, Rodrigo.
Estive ausente dos Uivos por alguns dias, mas a consciência de que teria que vir aqui não me deixava quieta. Esses poucos dias de aparente folga não me permitiram reunir material para uma faxina, tampouco repensar estratégias, rever conceitos e tentar crescer com as experiências - dolorosas - que a vida apronta. Na verdade, ainda me sinto adolescer nessa arte que é saber viver, e nem sei se algum dia poderei enumerar as caracteristicas da minha maturidade abertamente exposta, mas literalmente carente de sabedoria.
Ainda emocionada e triste por conta do adeus tão precoce ocorrido hoje pela manhã... No sábado 13/08/2011, Rodrigo Mazza Ramos, o filho do Pimentel, nosso primo e amigo, partiu precocemente fazendo o que ele mais gostava na vida: pular de paraquedas. Rodrigo compunha um quadro de elite de salvamento da aeronautica, com endereço no Rio de Janeiro, mas a poucos dias haviam se estabelecido em Goiás para formar um pelotão especializado em salvamentos perigosos. Pois é... Ele estava de folga com os amigos e resolveram aproveitar o dia, o vento, a vida, e pularam em um aeroporto particular em Campo Grande. Rodrigo não conseguiu vencer uma rajada fortíssima de vento, o paraquedas principal enroscou nele, o paraquedas reserva não abriu, ele caiu em queda livre em uma cerca de arame farpado e teve multiplos traumatismos. Os amigos, graças a Deus, completaram o salto sem incidentes, mas o Rodrigo não conseguiu. Era o dia em que ele encontraria cara-a-cara a morte, e nenhum dos pais poderia se interpor a esse encontro, embora que Pimentel e Creuza se colocariam no lugar do filho sem pestanejar. E morreriam felizes por preservar a vida do filho.
Sem conseguir respirar na presença da Sra. Morte, que usou uma proximidade desconcertante para dizer que ela pode levar os filhos primeiro, e só depois os pais, partilho um pouco dessa dor sufocante, contínua e brutal que vi nos olhos dos pais que perdem seus filhos para ela... E sinto um enorme pesar por não haver siginificado e respostas para esse "Por quê?".
É muito triste.... O pior do enterro ainda estava por vir, que foi ouvir as cornetas de despedidas tocadas pelos militares, a família e amigos aos prantos, as palavras querendo sair da boca sendo abafadas pelas lágrimas, socorrer o pai desesperado, absolutamente dopado de remédios para o coração e tranquilizantes, que precisou sair desmaiado e de cadeiras de rodas do enterro diretamente para o hospital. A mãe, inconsolável, havia desmaiado várias vezes no sábado e domingo, mas precisou guardar energias para consolar a filha que chorava, se contorcia, e não conseguia ficar de pé de tanta dor e sofrimento. Vendo tudo isso, me perguntei várias vezes, o que nos falta para compreender a vida e a morte, quando "a lição, sabemos de cór; só nos resta aprender".
O que nos ensina o Senhor, quando entramos em rota de colisão com a morte de um filho? Será que esse sofrimento tenta nos dizer que precisamos ser melhores? Que Pai é esse, que abrevia uma vida tão certinha como levava o Rodrigo, nos dizendo que é preciso rever conceitos de vida? Será que é assim mesmo? O fato é que me sinto tão inútil quanto as perguntas que agora faço à morte, pois sei que ficarão sem respostas, e o vazio delas alimentará um profundo silêncio e respeito pelo que não sabemos, mas continuará nos atormentando. Seja como for, registrar as reflexões que a perda desse menino nos provoca é olhar para ontem, para hoje e para o amanhã.
Descanse em paz, Rodrigo; e todos os demais, que nesse momento partem e deixam saudades.