Na opinião de Schutz, se a sociedade é repressiva, ele ( o homem ) não pode mais se desenvolver inteiramente. Se as instituições sociais são destrutivas, ele não pode crescer. Se a vida em família é constrangedora, o trabalho desumano, as leis humilhantes, as normas intoleráveis, se o fanatismo e o preconceito são as bases da atuação humana, então nosso homem plenamente realizado está em situação muito difícil. O prazer ao nível da organização surge quando uma sociedade e cultura são sustentadas e incrementadas para a auto-realização.(...) O prazer surge quando alguém realiza seu potencial para o sentimento, para a liberdade e abertura internas, para a expressão total de si mesmo, para poder fazer tudo que é capaz, e para estabelecer relações satisfatórias com os outros e com a sociedade.
Para Paul Tillich, "a coragem da sabedoria" é conflitada por medos e desejos que a sociedade coloca como máscaras assustadoras em todos os homens e coisas. Tirando-as, suas verdadeiras fisionomias são reveladas, desaparecendo o medo que elas causam.
Na sua apreciação, ele faz referências aos estóicos, filósofos que desenvolveram uma profunda doutrina da ansiedade, e cita os seguintes trechos de Sêneca e Epícteto, respectivamente: "nada é terrível nas coisas, exceto o medo", "porque não é a morte, ou a privação, que é uma coisa terrível, mas o medo da morte e da privação".
Realmente. Se considerarmos a morte, observamos que morremos um pouco a cada instante. A morte, como momento final, apenas completa esse processo. Os horrores relacionados a ela desaparecem, uma vez que se retira a máscara da imagem da morte.
Analogamente, podemos supor que os medos introjetados podem conduzir os indivíduos a uma situação de não enfrentamento, impedindo assim, suas possibilidades de realização e conseqüentemente, de ser feliz. Quando se ousa, num processo de enfrentamento, percebe-se que a situação opressora é menor do que nos fizeram acreditar. O pai, o patrão, a igreja, o governo ou outro qualquer é redimensionado.
Evidentemente, que num contexto mais amplo, como o social, é necessário que o combate à situação opressora seja feita em união com outros, igualmente oprimidos.
Mas, não podemos nos esquecer de que a ação opressora se dá de modo diferente, de acordo com o contexto sócio-econômico do indivíduo.
Além disso, a mesma situação opressora é vivenciada de maneira particular por cada pessoa de uma mesma classe social. Sendo assim, o seu comportamento frente à opressão será conformista ou de confronto e de luta, de acordo com a sua percepção, que, por sua vez, é influenciada por fatores bio-psíquico, históricos e sócio-culturais.
AUTO-REALIZAÇÃO: A EXPRESSÃO DA FELICIDADE
Em minha experiência, como terapeuta de adultos, tenho constatado o quanto tem sido efêmera a vivência da felicidade e o quanto têm-se que ousar para experiencia-la.
Freqüentemente, tenho ouvido expressões que a coloca como algo inatingível ou expressões que parecem conter em si um medo de ser feliz. Se assim for, como se explica o fato de sentirmos medo de algo que é sinônimo de contentamento e prazer? Ou, ainda, tendo em vista que o medo é um sentimento de inquietação e de apreensão diante de um perigo real ou imaginário, que perigo pode existir no ato de ser feliz?
Percebo no adulto, infelizmente com relativa freqüência, um ar entediado diante das coisas. Sua alegria parece ter se esgotado ou se deformado, envolvida por culpas e medos. Em alguns sua ausência chega a ser crônica. Seu envolvimento consigo mesmo e com os outros é tolhido. Realizam suas tarefas sem prazer, como autômatos. São conduzidos, não se autodeterminam. Não vivem, debatem-se entre culpas e medos, e apenas conseguem passar pela vida sem nunca tê-la vivido de fato.
Tal constatação difere, radicalmente, daquela que temos ao observarmos uma criancinha de poucos meses, cujas necessidades básicas tenham sido supridas. Ela se realiza ao explorar o ambiente. Seu envolvimento com o brinquedo é total. A curiosidade e a alegria soam como sinônimos de felicidade. A espontaneidade é a tônica do seu comportamento. O adulto que consegue manter a curiosidade, a espontaneidade e a alegria é, comumente, comparado a uma criança, quando não é considerado infantil, no sentido pejorativo.
O contraste observado